quarta-feira, 8 de maio de 2013

Segurança do telaprevir e boceprevir no tratamento de 485 pacientes cirróticos não respondedores a um tratamento anterior (French Early Access Program - ANRS CO20-CUPIC)

06/05/2013 


Segurança do telaprevir e boceprevir no tratamento de 485 pacientes cirróticos não respondedores a um tratamento anterior (French Early Access Program - ANRS CO20-CUPIC)


Compilei os dados daquilo que aconteceu durante o tratamento com telaprevir e boceprevir em 485 pacientes cirróticos não respondedores a um tratamento anterior apresentados no EASL 2013 e os apresento de forma comparativa objetivando que médicos e pacientes possam comparar os efeitos adversos dos dois tratamentos e a possibilidade de cura conforme a resposta ao tratamento anterior realizado sem sucesso com interferon peguilado e ribavirina. 

O objetivo do "French Early Access Program - ANRS CO20-CUPIC" é determinar a resposta sustentada 24 semanas após o final do tratamento com inibidores de proteases. Os dados apresentados no EASL 2013 são dados interinos, pois são referentes à resposta sustentada após 12 semanas do final do tratamento (o estudo continua sendo realizado). 

Os pacientes foram tratados entre 15 de fevereiro de 2011 e 12 de abril de 2012 em 18 centros especializados de França. 

Os dados são referentes a 485 tratamentos que já completaram 12 semanas de observação após o final do tratamento, todos os pacientes infectados com o genótipo 1 e já com cirrose compensada que já receberam tratamento com interferon peguilado e ribavirina sem sucesso. 

190 pacientes receberam tratamento com boceprevir, sendo as primeiras quatro semanas somente com interferon peguilado e ribavirina e na semana cinco do tratamento foi introduzido o boceprevir, completando um total de 48 semanas em terapia tripla (com os três medicamentos). 

295 pacientes receberam nas primeiras 12 semanas tratamento com telaprevir, interferon peguilado e ribavirina e a partir da semana 13 o tratamento continuou somente com interferon peguilado e ribavirina até completar 48 semanas de tratamento. 

COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DURANTE O TRATAMENTO:


1 - CARGA VIRAL INDETECTÁVEL DURANTE E APÓS O TRATAMENTO 

A Cada SemanaCom telaprevirCom boceprevir
Na Semana 4
49%
16%
Na Semana 8
79%
51%
Na Semana 12
81%
62%
Na Semana 16
77%
65%
Na Semana 24
68%
67%
Na Semana 48
56%
57%
Na semana 12 após o tratamento
40%
41%


2 - MOTIVOS QUE OCASIONARAM A PERDA DO TRATAMENTO (Em percentual de pacientes, considerando somente o total dos que interromperam o tratamento) 

- Por carga viral detectável nas semanas de controle interromperam o tratamento 19% dos tratados com telaprevir e 36% dos tratados com boceprevir. 

- Aconteceu a recidiva do vírus após o final do tratamento indetectável em 27% dos tratados com telaprevir e 27% dos tratados com boceprevir. 

- Aconteceu o Breakthrough (reapareceu o vírus durante o tratamento naqueles que já se encontravam indetectáveis) em 41% dos tratados com telaprevir e 26% dos tratados com boceprevir. 

- As interrupções por efeitos adversos durante o tratamento aconteceram em 14% dos tratados com telaprevir e 11% dos tratados com boceprevir. 

3 - POSSIBILIDADES DE CURA NOS PACIENTES EM RETRATAMENTO CONFORME O TRATAMENTO ANTERIOR COM INTERFERON PEGUILADO E RIBAVIRINA 

- Em pacientes recidivantes, que são aqueles em que o vírus voltou após o final do tratamento com interferon peguilado e ribavirina no tratamento anterior, dos tratados com telaprevir 53% se encontravam indetectáveis 12 semanas após o final do tratamento e 51% dos que receberam tratamento com boceprevir também estavam indetectáveis. 

- Em pacientes respondedores parciais que são aqueles em que o vírus voltou durante a realização do tratamento anterior, dos tratados com telaprevir 32% se encontravam indetectáveis 12 semanas após o final do tratamento e 40% dos que receberam tratamento com boceprevir também estavam indetectáveis. 

- - Em pacientes respondedores nulos que são aqueles que tiveram que interromper o tratamento anterior porque ainda estavam positivos na semana 24, dos tratados com telaprevir 29% se encontravam indetectáveis 12 semanas após o final do tratamento e 11% dos que receberam tratamento com boceprevir também estavam indetectáveis. 

4 - POSSIBILIDADES DE CURA CONFORME O SUBTIPO DO GENOTIPO 1 

SubtipoCom telaprevirCom boceprevir
Genótipo 1a
34%
31%
Genótipo 1b
46%
51%
Genótipo indeterminado
27%
37%


5 - POSSIBILIDADES DE CURA CONFORME A CARGA VIRAL ANTES DO TRATAMENTO 

Carga ViralCom telaprevirCom boceprevir
Abaixo de 800.000 IU/ml
45%
41%
Acima de 800.000 IU/ml
37%
42%


6 - INDETECTAVEIS NA SEMANA 12 APÓS O TRATAMENTO CONFORME A CARGA VIRAL DURANTE O TRATAMENTO 

- Nos pacientes tratados com telaprevir 50% dos que se encontravam indetectáveis na semana 4 permaneciam indetectáveis as 12 semanas após o tratamento. Entre os que na semana 4 ainda estavam positivos, 28% permaneciam indetectáveis as 12 semanas após o tratamento. 

- Nos pacientes tratados com boceprevir 55% dos que se encontravam indetectáveis na semana 8 permaneciam indetectáveis as 12 semanas após o tratamento. Entre os que na semana 8 ainda estavam positivos, 28% permaneciam indetectáveis as 12 semanas após o tratamento. 

7 - EFEITOS ADVERSOS DURANTE O TRATAMENTO (Em percentual de pacientes que tiveram os efeitos considerando o total de pacientes que iniciaram o tratamento) 

- Aconteceram 535 efeitos adversos considerados sérios em 160 pacientes tratados com telaprevir (54,2%) e 321 efeitos adversos considerados sérios em 97 pacientes dos tratados com boceprevir (51%). 

- A interrupção do tratamento por efeitos adversos de qualquer tipo aconteceu em 47,1% dos tratados com telaprevir e em 42,1% dos tratados com boceprevir. 

- Aconteceram algumas mortes por diversos motivos, mas penso que deve se considerar que alguns pacientes se encontravam em fases avançadas da cirrose, motivo pelo qual pessoalmente não acredito que se possa afirmar se as mortes aconteceram pelos inibidores de proteases ou pelo interferon. Entre os tratados com telaprevir 2,4% foram a óbito e entre os tratados com boceprevir as mortes aconteceram em 1,6% dos pacientes. 

- Infecção grave (grau 3 ou 4) aconteceu em 9,1% dos tratamentos com telaprevir e em 4,2% dos tratados com boceprevir. 

- Descompensação hepática (grau 3 ou 4) aconteceu em 5,1% dos tratados com telaprevir e em 4,7% dos tratados com boceprevir. 

- Rash em grau 3 aconteceu em 534% dos tratamentos com telaprevir e em 1% dos tratamentos com boceprevir. 

- Efeitos cutâneos graves aconteceram em 0,6% dos pacientes em tratamento com telaprevir, não acontecendo nos pacientes em tratamento com telaprevir. 

- Anemia em grau 3 ou 4, com hemoglobina abaixo de 8 g/dl, aconteceu em 12,9% dos tratamentos com telaprevir e 10% dos tratamentos com boceprevir. 

- A Eritropoetina durante o tratamento para controlar a anemia foi utilizada por 57% dos pacientes em tratamento com telaprevir e por 62,6% dos pacientes em tratamento com boceprevir. 

- Transfusões de sangue foram necessárias em 18% dos tratamentos com telaprevir e em 13,7% dos tratamentos com boceprevir. 

- A Filgrastima durante o tratamento para controlar a imunidade foi utilizada por 2,7% dos pacientes em tratamento com telaprevir e por 6,8% dos pacientes em tratamento com boceprevir. 

MEU COMENTÁRIO FINAL 

Estes são os primeiros dados consistentes mostrando o que acontece na vida real ao se utilizar telaprevir ou boceprevir no tratamento de pacientes com cirroses que não responderam a um tratamento anterior realizado com interferon peguilado, isto é, analisando o que acontece no grupo de pacientes considerados os mais difíceis de tratar. 

São esses pacientes que possuem a menor possibilidade de cura e pela sua condição clínica apresentam maior possibilidade de desenvolver efeitos adversos graves. 

Exemplificando, se retratados com interferon peguilado e ribavirina a possibilidade de cura fica entre 11 e 18%, já com telaprevir ou boceprevir essa possibilidade é mais que o dobro, de 40% de sucesso. Sem duvida maior ainda em pacientes com fibroses F2 ou F3. 

Em relação aos efeitos adversos observados é importante saber que pacientes sem cirrose, com fibrose F2 ou F3, certamente sofrerão em muita menor escala e intensidade. 

Outro ponto interessante de destacar é que são observados menos efeitos adversos que nos ensaios clínicos realizados pelos fabricantes para obter a aprovação dos medicamentos pelos organismos regulatórios, isso possivelmente fruto da maior experiência e conhecimento no tratamento por parte dos profissionais de saúde. 

Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Apresentação oral no EASL 2013 em 26 de abril - Amsterdam, Holanda.
Pesquisadores:
H Fontaine1, C Hezode2, C Dorival3, D Larrey4, F Zoulim5,V de Ledinghen6, V Canva7, L Alric8, M Bourliere9, S Pol1, T Poynard10, G Riachi11, PH Bernard12, JJ Raabe13, J Gournay14, S Metivier15, JM Pawlotsky16, D Samuel17, Y Barthe3, F Carrat3, JP Bronowicki18, for the ANRS CO 20 CUPIC study group.
Hospitais participantes:
1.Hopital Cochin, Paris, 2. Hopital Henri Mondor, Creteil, 3. UMR-S 707, Paris, 4. Hopital Saint-Eloi, Montpellier, 5. INSERM U871, Lyon, France, 6.Hopital Haut Lêveque, Bordeaux, France 7. Hopital Clude Hurriez, Lille, France, 8. Medecine Interne, Hopital Purpan, Toulouse, 9. Fondation Saint-Joseph, Marseille, France, 10. Hepatologie, Hopital de la Pitie-Salpetriere, Paris, France 11. Hopital Charles Nicolle, Rouen, France, 12. Hoptal Saint-Andre, Bordeaux, France, 13. Hopital Bon Secours, Metz, France, 14. Hopital Universitaire de Nantes, Nantes, France 15. Hepatogastroenterologie, Hopital Purpan, Toulouse, France, 16. Hopital Henri Mondor, Creteil, France 17. Hopital Paul Brousse, Villejuif, France 17. Hopital de Brabois, Nancy, France. 


Carlos Varaldo
www.hepato.com
hepato@hepato.com 


FONTE:

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