20/05/2013
O Dr. Jürgen K. Rockstroh professor na Universidade de Bonn, na Alemanha, esteve participando ativamente no congresso europeu de fígado, o EASL 2013 e acaba de fazer um extenso relatório com 30 páginas contendo o que viu de mais importante, do qual faço um resumo sem comentários da minha parte.
INTRODUÇÃO
Na sua introdução ele coloca que quando do anuncio do boceprevir e telaprevir no tratamento da hepatite C médicos e pacientes achavam que dois terços de todos os infectados com o genótipo 1 da hepatite C resultariam curados, mas por diversas questões o resultado não corresponde com as promessas entre os pacientes com cirrose, principalmente pela falta de aderência a um tratamento longo, como o grande número de comprimidos a cada dia, necessidades especiais de alimentação para tomar os comprimidos, alta taxa de efeitos adversos e múltiplas interações com outros medicamentos.
Portanto, após uma euforia inicial para oferecer a terapia tripla para pacientes que haviam esperado muito tempo por opções mais eficazes, muitos médicos e pacientes também parecem agora esperar por outras terapias mais fáceis de tomar e, potencialmente, melhor toleradas e, na melhor das hipóteses, mesmo livres do interferon em um futuro próximo.
No EASL deste ano, em Amsterdam, com mais de 9.600 delegados foram apresentados os resultados do estudo de fase 3 para uma "segunda onda de inibidores da protease" o faldaprevir e o simeprevir, cada um em combinação com interferon peguilado e ribavirina para tratamento do genótipo 1, bem como os resultados da fase 3 para o inibidor de polimerase sofosbuvir em combinação com interferon peguilado e ribavirina para o tratamento dos genótipos 1, 4, 5 e 6.
Além disso, foram apresentados resultados da fase 3 do primeiro tratamento livre de interferon, com sofosbuvir e ribavirina, para o tratamento de genótipos 2 e 3.
Como essas novas drogas foram ou estão prestes a ser apresentadas para licenciamento no FDA pode-se esperar que, pelo menos para os Estados Unidos, a aprovação dessas novos medicamentos possam ser esperados para chegar ao mercado em 2013 ou 2014.
Portanto, com maior probabilidade de que estas novas drogas chegam ao mercado mais tardar em 18 meses a pergunta que todos fazem é tratar agora ou esperar por melhores opções de tratamento da hepatite C.
Mas é evidente que há um futuro ainda mais promissor por trás desses novos medicamentos, sugerindo tratamentos livres do interferon, regimes que estarão disponíveis para tratar até os pacientes mais difíceis de resposta e para todos os genótipos nos próximos anos.
Vários estudos que foram apresentados em EASL permitem ver um vislumbre deste futuro altamente promissor. No entanto, quando colocado o custo potencial das novas drogas e, ainda, qual paciente necessitará de uma combinação de quantos dos novos medicamentos e qual será o tipo de combinação para cada paciente, são perguntas que permanecem sem resposta.
Com efeito, o elevado número de compostos e de combinações torna cada vez mais difícil seguir todos os estudos.
PORQUE TRATAR A HEPATITE C?
O Dr. Rockstroh critica os países que restringem o uso do telaprevir e boceprevir para os pacientes com estágios mais avançados de fibrose, recomendando olhar para o impacto na sobrevida com o tratamento da hepatite C e o beneficio obtido, demonstrando boa relação custo-eficácia na utilização dos inibidores. Dados interessantes de um estudo (Electronically Retrieved Cohort of HCV Infected Veterans - ERCHIVES) avaliou a mortalidade entre veteranos de guerra dos Estados Unidos.
O resultado é incontestável, pois foram capazes de comparar o impressionante número de 195.585 pacientes com hepatite C com 202.739 veteranos não infectados.
A taxa de mortalidade entre os infectados com hepatite C foi o dobro que entre nos não infectados, enquanto entre os infectados a taxa de mortalidade era de 43,9 por 1.000 pessoas/ano, entre os não infectados era de 24 por 1.000 pessoas/ano. Os indicadores mais importantes que aumentam a mortalidade foram doença hepática descompensada, anemia, câncer, doença renal crônica. Os resultados mostram mais uma vez a importância de oferecer o tratamento mais efetivo disponível para o tratamento dos infectados com hepatite C.
EFICÁCIA E SEGURANÇA DO BOCEPREVIR E TELAPREVIR NA REALIDADE CLÍNICA
O estudo independente CUPIC realizado na França observando o tratamento comparando boceprevir e telaprevir em cirróticos não respondedores a um tratamento anterior com interferon e ribavirina permitiu estudar a eficácia e segurança dos dois novos inibidores da protease numa população de pacientes muito mais fácil de encontrar que a incluída nos ensaios clínicos realizados para aprovação dos medicamentos. A taxa de cura obtida nesse grupo de pacientes, muito difíceis de responder ao tratamento por se tratar de cirróticos não respondedores, foi de 40% com telaprevir e 41% com o boceprevir.
Conclui que o perfil de segurança dos inibidores conforme o CUPIC é pobre em pacientes cirróticos e está associada com aumento das taxas de interrupção devido a efeitos adversos, recomendando que esse grupo de pacientes receba tratamento em centros experimentados.
Outro estudo (HCV-TARGET) ainda em andamento nos Estados Unidos e Canadá incluindo 1.097 pacientes em tratamento com telaprevir e 342 com boceprevir mostra que 8% dos pacientes interromperam o tratamento por falha virologica e 9% por efeitos adversos. Na primeira analise provisória, a eficácia e segurança no tratamento com telaprevir e boceprevir na vida real parece ser semelhante a observada nos ensaios clínicos realizados para o registro dos medicamentos. A descompensação hepática aconteceu em 11% dos pacientes com cirrose durante o tratamento, mas felizmente muitos poucos pacientes perderam o tratamento por qualquer tipo de interrupção, sugerindo que está se ganhando experiência e portanto já existe uma melhor e cuidadosa monitorização dos efeitos adversos e da gestão do tratamento. As taxas de respostas são esperadas para serem publicadas nos próximos meses.
Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Summary from EASL 2013 for Hepatitis C - New HCV DAAs on their way soon: what do the phase III studies tell us? - Jürgen K. Rockstroh M.D., Professor of Medicine University of Bonn, Germany
Carlos Varaldo
www.hepato.com
hepato@hepato.com
FONTE:
http://hepato.com/p_pesquisas/111_port_pesquisas.html
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