Muito se fala em infectados com hepatite C "difíceis" de tratar, mas quais são esses pacientes?
A cada dia nos deparamos com notícias sobre os notáveis avanços no tratamento da hepatite C e, mais ainda, que num futuro próximo a hepatite C poderá ser curada sem necessidade da utilização de interferon peguilado. Mas é necessário colocar os pés sobre a terra e saber que não todos os infectados terão a mesma possibilidade de cura ou, simplesmente, de poder fazer uso dos novos medicamentos.
PACIENTES "DIFÍCEIS" DE TRATAR COM INTERFERON PEGUILADO E RIBAVIRINA
Existem vários grupos de pacientes considerados "difíceis" de tratar, entre eles muitos são os que já tratados com interferon peguilado e ribavirina foram considerados "nulos de resposta" porque ate a semana 24 do tratamento com interferon peguilado e ribavirina ainda se encontravam com o vírus detectável. As possibilidades de sucesso com um retratamento com interferon peguilado são mínimas.
Também existem os intolerantes ao interferon, os quais por diversos motivos, em especial alergia, não podem fazer uso do interferon, também, aqueles que por diversas condições de saúde, muitos com doenças autoimunes, depressão, transtorno bipolar, câncer e outras condições não podem, em principio, receber o tratamento já que o interferon poderá exacerbar as doenças. A utilização do interferon peguilado e ribavirina é perigosa nesses pacientes, podendo em alguns casos ser utilizado, mas em condições muito especiais de controle. Este perfil de pacientes representa uma proporção significativa de infectados nos atuais candidatos à terapia antiviral.
Os pacientes idosos também são considerados pacientes "difíceis" de tratar e por falta de diagnostico precoce a cada dia os infectados idosos aumentam em quantidade. Os idosos respondem menos ao tratamento que pacientes mais jovens e os efeitos colaterais e adversos sabem acontecer com maior intensidade nos idosos. A idade avançada não é uma contraindicação absoluta para um tratamento com interferon, mas o tratamento é mais complicado.
Os co-infectados com AIDS e hepatite C é outro grupo de pacientes "difíceis" de tratar. Progridem mais rapidamente no dano hepático e respondem um pouco menos ao tratamento, devem ser tratados por médicos experientes nesse tipo de paciente.
ESPERANÇA COM OS NOVOS MEDICAMENTOS
Os inibidores de proteases boceprevir e telaprevir devem ser combinados ao interferon peguilado e ribavirina não sendo então uma opção para os pacientes com contraindicação absoluta ao interferon e, também, não serão uma boa escolha para os pacientes que apresentam comorbidades ou são idosos. Em pacientes nulos a um tratamento anterior com interferon peguilado e ribavirina a terapia triple com um dos inibidores de proteases não é a alternativa ideal, pois a possibilidade de cura fica apenas entre 30 e 40%, pior ainda o resultado se o nulo de resposta é também cirrótico, quando a possibilidade de cura fica em somente 15%.
Os tratamentos livres de interferon que se encontram em pesquisa, utilizando somente medicamentos orais poderão beneficiar pacientes difíceis de tratar atualmente, mas pessoalmente considero arriscado afirmar que servirão para todos os casos. Algumas pesquisas já incluem pacientes nulos de resposta com excelentes resultados, mas o numero de pacientes incluídos nas pesquisas ainda é pequeno para poder confirmar os resultados obtidos. Em 21 pacientes nulos de resposta tratados com asunaprevir e daclatasvir 90% resultaram curados. Novas pesquisas com maior numero de pacientes serão necessárias para confirmar tal excelente resultado.
Na mesma pesquisa foram incluídos 22 pacientes inelegíveis ao tratamento com interferon por apresentarem comorbidades diversas ou por ser intolerantes ao interferon dos quais 64% resultaram curados.
Vários outros medicamentos orais se encontram em fases avançadas das pesquisas e muito provavelmente eles deverão ser utilizados combinando dois medicamentos ou mais deles nos pacientes considerados difíceis de tratar, sendo ainda desconhecido qual será a combinação ideal, as dosagens de cada um deles e o tempo de tratamento.
Sofosbuvir, asunaprevir, daclatasvir, simeprevir, faldaprevir, danoprevir, mericibabine, ritonavir, BI207127, ABT333, ABT-267 e GS5885 são os 12 medicamentos que pessoalmente considero serem os mais promissórios, sem esquecer-se da conhecida ribavirina. Alguns deles com bons resultados preliminares em todos os genótipos, alta potencia e excelente barreira de resistência viral.
Não estou sendo um pessimista total nem um otimista exagerado, simplesmente estou sendo realista, pois posso afirmar com total certeza que nos próximos dois ou três anos acontecerão avanços significativos que irão beneficiar a maioria dos atuais pacientes considerados "difíceis" de tratar. Alguns desses medicamentos poderão não se concretizar chegando ao mercado, mas uma parte considerável será uma realidade terapêutica que vai beneficiar a maioria dos infectados.
Pena que por segurança a pesquisa por ter que ser realizada em seres humanos caminha em passos mais lentos que a ansiedade dos pacientes.
Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base as seguintes fontes:
Interferon free regimens for the "difficult-to-treat": Are we there? - Maria Carlota Londoño, Sabela Lens, Xavier Forns - Journal of Hepatology - Volume 58, Issue 4 , Pages 643-645.
Dual oral therapy with daclatasvir and asunaprevir for patients with HCV genotype 1b infection and limited treatment options - Yoshiyuki Suzuki, Kenji Ikeda, Fumitaka Suzuki, Joji Toyota, Yoshiyasu Karino, Kazuaki Chayama, Yoshiiku Kawakami, Hiroki Ishikawa, Hideaki Watanabe, Wenhua Hu, Timothy Eley, Fiona McPhee, Eric Hughes, Hiromitsu Kumada - Journal of Hepatology - Vol. 58, Issue 4, Pages 655-662.
Carlos Varaldo
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