10/06/2013
A hepatite C é considerada uma doença "dupla", isto é, virológica e fibrótica. Considerando essa separação de princípios podem ocorrer complicações em pacientes curados com o tratamento, pois a fibrose ou cirrose existente antes do tratamento, chamada de fibrose residual, continua a afetar o fígado. Eliminar o vírus não significa que o fígado passará a ser um fígado totalmente regenerado, ficando "zero quilometro". O vírus C que o estava atacando e destruindo foi eliminado e o problema não existe mais, mas os danos causados ainda existem e, ainda, outras doenças ou condições também podem continuar a afetar o fígado.
Devido as dificuldades de realizar repetidas biopsias existem poucos estudos avaliando a progressão ou regeneração do fígado após o tratamento. O presente estudo é interessante, mas ao final, nas minhas considerações, realizo algumas criticas, as quais desde meu ponto de vista considero um estudo muito controverso nos resultados apresentados.
O ESTUDO
Os pesquisadores franceses, integrantes do grupo que possui a patente do Fibrotest, com o objetivo de estimar o impacto da cura (resposta sustentada) na dinâmica da fibrose realizaram um estudo utilizando os resultados de exames de sangue (Fibrotest) para avaliar o grau de fibrose ou cirrose nos pacientes.
O objetivo principal era avaliar a taxa de regressão da fibrose 10 anos após a cura. Para avaliação da fibrose foi definido que uma diminuição de no mínimo 0,20 pelo Fibrotest corresponderia ao equivalente de 1 estagio na Classificação Metavir.
Foram incluídos 933 pacientes, tratados e não tratados, todos com Fibrotest realizado antes do tratamento e repetido 10 anos depois.
RESULTADOS AOS 10 ANOS
- Dos 415 pacientes que no momento do tratamento apresentavam fibrose avançada, 10 anos após foi encontrado que entre os que obtiveram a cura 49% apresentavam redução da fibrose de pelo menos 1 estagio na escala Metavir.
- Entre os 219 tratados que não responderam ao tratamento 23% apresentavam uma redução da fibrose de pelo menos 1 estagio na escala Metavir.
- Curiosamente, em 88 pacientes não tratados a redução da fibrose em pelo menos 1 estagio na escala Metavir aconteceu em 45% desses pacientes, um percentual de redução igual ao dos pacientes curados.
- Dos 43 pacientes que apresentavam cirrose antes do tratamento e resultaram curados, 24 deles conseguiram reduzir a cirrose, mas 15 novos casos de cirrose aconteceram em 128 pacientes curados que no momento do tratamento se encontravam com fibrose avançada.
- Câncer de fígado aos 10 anos após o tratamento aconteceu em 4,6% dos pacientes curados com o tratamento e em 5,6% dos que não responderam ao tratamento.
Concluem os autores que em pacientes infectados pela hepatite C e, presumindo pelos resultados do Fibrotest, a cura da hepatite C é associada com uma regeneração lenta e progressiva da fibrose durante 10 anos após o tratamento, mas consideram ser decepcionante a diminuição de somente 5% dos casos de cirrose e de um risco de 5% do aparecimento de câncer de fígado aos 10 anos após o tratamento em pacientes que antes do tratamento apresentavam fibrose avançada ou cirrose.
MEUS COMENTÁRIOS
Pessoalmente considero os resultados controversos e faço algumas criticas, a saber:
- Não está considerado o estilo de vida dos pacientes nem existem explicações sobre outras condições demográficas ou clínicas que possam influenciar os resultados durante os 10 anos compreendidos no estudo, condições essas que podem afetar enormemente os resultados da evolução de fibrose, da cirrose ou do câncer de fígado.
- Todos os estudos já publicados utilizaram biopsias para obter os resultados. A biopsia é considerada o padrão ouro para avaliar o estado do fígado, não podendo então efetuar uma comparação com tais estudos.
Certamente o estudo realizado passa a ser uma das tantas controvérsias que existem na hepatite C.
Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Slow regression of liver fibrosis presumed by repeated biomarkers after virological cure in patients with chronic hepatitis C - Poynard T, Moussalli J, Munteanu M, Thabut D, Lebray P, Rudler M, Ngo Y, Thibault V, Mkada H, Charlotte F, Bismut FI, Deckmyn O, Benhamou Y, Valantin MA, Ratziu V, Katlama C; the FibroFrance-GHPS group. - J Hepatol. 2013 May 24. pii: S0168-8278(13)00345-0. doi: 10.1016/j.jhep.2013.05.015
Carlos Varaldo
www.hepato.com
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FONTE:
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