06/07/2013
Motivos que podem ocasionar a perda do tratamento na hepatite C
Existem duas situações muito diferentes, mas ambas levam ao agravamento, e até a morte, de pacientes com doenças crônicas. Uma é não ter acesso ao tratamento, outra é os que têm acesso mas não têm aderência ao tratamento, não tomando os medicamentos conforme indicado pelo médico. Estudos da Organização Mundial da saúde mostram que a metade dos doentes crônicos não seguem corretamente os tratamentos.
A falta de aderência (não tomar os medicamentos nas doses e horários indicados pelo médico) prejudica a saúde do paciente e o sistema de saúde. A falta de aderência é maior nas doenças silenciosas, sem sintomas, principalmente naquelas que além de silenciosas o tratamento provoca efeitos colaterais e adversos desagradáveis, que prejudicam a qualidade de vida, como acontece na hepatite C.
Os principais motivos pelos quais não existe aderência plena as indicações dos médicos podem ser resumidos na falta de compreensão e conhecimento da doença e seu tratamento por parte do paciente, nos efeitos colaterais e adversos dos medicamentos que afetam a qualidade de vida, na capacidade de trabalho e o relacionamento social, ou a falta rotineira de medicamentos, consultas e exames quando se depende do sistema público de saúde.
Em relação à falta de compreensão e conhecimento da doença e seu tratamento por parte do paciente coloco "em parte" a culpa nos médicos (podem me odiar, mas é a pura verdade). O tempo de uma consulta, especialmente no serviço público (isso não é culpa do médico e sim do sistema) ou no atendimento pelos planos de saúde é pequeno para explicar completa e corretamente sobre a própria doença e seu tratamento, em especial em tratamentos complexos, como é o caso das hepatites. Nesse caso a culpa é do sistema que remunera mal os médicos e, portanto não podem dar mais que 10 ou 15 minutos de atenção para cada consulta.
O paciente passa então a tomar os medicamentos sem compreender corretamente os benefícios e os efeitos colaterais, não entendem porque devem mudar seu estilo de vida e, quando recebem gratuitamente os medicamentos desconhecem o seu custo (quem compra os medicamentos os valoriza muito mais, pois valoriza o investimento).
Os medicamentos não são milagrosos, eles são necessários, mas o paciente deve fazer sua parte para que eles causem efeitos. Se o médico recomenda praticar atividades físicas ou emagrecer não o fez por capricho ou para incomodar o paciente, simplesmente indicou tais ações porque são necessárias para conseguir sucesso com o tratamento. O medicamento, para funcionar, precisa de uma resposta do próprio organismo, da sua cooperação, de seu esforço. Um tratamento completo na hepatite C depende dos medicamentos, da aderência, da atividade física e do planejamento alimentar.
Vejamos porque o paciente antes de iniciar o tratamento deve estar ciente da sua doença, as consequências se tratar ou não tratar, o tratamento indicado e, o que pode acontecer. A seguir uma lista dos fatores que influenciam a decisão de tratar e da maioria das interrupções durante o tratamento. Coloquei ao lado de cada fator a minha interpretação entre parêntesis, negativa ou positiva.
- Possíveis problemas de saúde se não tratar a hepatite C (fator estimulante ao conhecer a progressão natural do dano hepático).
- Eficácia esperada do tratamento (fator estimulante se a possibilidade de cura for superior aos 70%).
- Temor de sofrer efeitos colaterais durante o tratamento (fator negativo se o paciente está com medo de sofrer os efeitos colaterais).
- Temor de sofrer depressão durante o tratamento (fator negativo se o paciente é depressivo).
- Temor de perder o trabalho se sofrer fadiga durante o tratamento (um fator que deve ser discutido abertamente com a família e seu chefe no trabalho).
- Tratamento de longa duração (fator negativo).
- Temor de medicamentos injetáveis (fator negativo, mas em curto prazo chegarão os medicamentos para tratamento oral).
- Incomodo de ter que se lembrar de tomar vários medicamentos durante o tratamento (fator negativo).
- O médico não apresenta nem discute possíveis alternativas de tratamento (fator negativo).
- Temor da biópsia de fígado (fator negativo, mas hoje já existem métodos não invasivos para avaliar o grau de fibrose ou cirrose).
- Depoimentos e relatos de pessoas com hepatite C e seu impacto na qualidade de vida (fator negativo, principalmente aqueles que encontram relatos negativos em listas de discussão na internet).
- Depoimentos de como a qualidade de vida foi afetada durante o tratamento da hepatite C (fator negativo, principalmente aqueles que encontram relatos negativos em listas de discussão na internet).
- Grau de fibrose mínimo ou moderado (fator positivo que indica que pode aguardar novos medicamentos, mas também um fator negativo já que poderá agravar o grau de fibrose).
- Fígado já com cirrose (fator positivo. Em geral incentiva o paciente a tentar o tratamento com responsabilidade)
- Possibilidade de vir a apresentar sintomas da hepatite C (fator positivo. Conhecer a progressão e consequências incentiva o tratamento).
- Mulheres pretendendo engravidar (fator negativo. A mulher não pode engravidar caso ela ou o parceiro esteja realizando o tratamento, devendo aguardar seis meses após o final do tratamento para tentar a gravidez).
- Uso de drogas (fator negativo, pois aumenta a possibilidade de interrupção do tratamento).
- Falta de maiores informações sobre os tratamentos de hepatite C (fator negativo).
- Força de vontade positiva demonstrada durante a vida (fator altamente positivo).
- Falta de força de vontade em alcançar seus objetivos pessoais (fator altamente negativo).
- Quais objetivos de vida podem ser prejudicados pela hepatite C (avaliar os planos futuros de vida que não poderiam ser atingidos caso não realize o tratamento pode ser um fator positivo).
- Como a hepatite C pode prejudicar a família (avaliar o prejuízo familiar caso não realize o tratamento pode ser um fator positivo).
- O tratamento pode prejudicar a família (fator que deve ser discutido amplamente com a família. A família é fundamental para ter o apoio necessário durante todo o tratamento).
- Capacidade de pagar o tratamento (fator negativo devido ao alto custo se não estiver disponível tratamento gratuito).
- Apoio emocional de amigos, familiares, grupos de apoio e religião (fator fundamental para evitar a depressão).
- Empatia com o médico (fator fundamental. O médico deve ser considerado um amigo e não um profissional distante)
- Conselhos do médico (é fundamental seguir a risca os conselhos do médico para ser um fator positivo).
- Dialogo com o médico, enfermeiros e equipe profissional do hospital (fundamental para ser um fator positivo).
- Encaminhamento correto da equipe medica para conseguir exames, consultas e medicamentos (fator fundamental. O tratamento não pode ter interrupções).
- Distancia muito grande da residência ao local de tratamento (fator negativo em países como Brasil onde em alguns estados as distancias são grandes).
- Informações e explicações sobre o andamento do tratamento, explicando cada resultado de exames (fator positivo para encorajar o paciente a não desistir do tratamento e manter a aderência).
Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Assessment of motivating factors associated with the initiation and completion of treatment for chronic hepatitis C virus (HCV) infection - Fusfeld L, Aggarwal J, Dougher C, Vera-Llonch M, Bubb S, Donepudi M, Goss TF. - BMC Infect Dis. 2013 May 23;13(1):234.
Carlos Varaldo
e-mail: hepato@hepato.com - e-mail opcional: grupootimismo@gmail.com
www.hepato.com
Existem duas situações muito diferentes, mas ambas levam ao agravamento, e até a morte, de pacientes com doenças crônicas. Uma é não ter acesso ao tratamento, outra é os que têm acesso mas não têm aderência ao tratamento, não tomando os medicamentos conforme indicado pelo médico. Estudos da Organização Mundial da saúde mostram que a metade dos doentes crônicos não seguem corretamente os tratamentos.
A falta de aderência (não tomar os medicamentos nas doses e horários indicados pelo médico) prejudica a saúde do paciente e o sistema de saúde. A falta de aderência é maior nas doenças silenciosas, sem sintomas, principalmente naquelas que além de silenciosas o tratamento provoca efeitos colaterais e adversos desagradáveis, que prejudicam a qualidade de vida, como acontece na hepatite C.
Os principais motivos pelos quais não existe aderência plena as indicações dos médicos podem ser resumidos na falta de compreensão e conhecimento da doença e seu tratamento por parte do paciente, nos efeitos colaterais e adversos dos medicamentos que afetam a qualidade de vida, na capacidade de trabalho e o relacionamento social, ou a falta rotineira de medicamentos, consultas e exames quando se depende do sistema público de saúde.
Em relação à falta de compreensão e conhecimento da doença e seu tratamento por parte do paciente coloco "em parte" a culpa nos médicos (podem me odiar, mas é a pura verdade). O tempo de uma consulta, especialmente no serviço público (isso não é culpa do médico e sim do sistema) ou no atendimento pelos planos de saúde é pequeno para explicar completa e corretamente sobre a própria doença e seu tratamento, em especial em tratamentos complexos, como é o caso das hepatites. Nesse caso a culpa é do sistema que remunera mal os médicos e, portanto não podem dar mais que 10 ou 15 minutos de atenção para cada consulta.
O paciente passa então a tomar os medicamentos sem compreender corretamente os benefícios e os efeitos colaterais, não entendem porque devem mudar seu estilo de vida e, quando recebem gratuitamente os medicamentos desconhecem o seu custo (quem compra os medicamentos os valoriza muito mais, pois valoriza o investimento).
Os medicamentos não são milagrosos, eles são necessários, mas o paciente deve fazer sua parte para que eles causem efeitos. Se o médico recomenda praticar atividades físicas ou emagrecer não o fez por capricho ou para incomodar o paciente, simplesmente indicou tais ações porque são necessárias para conseguir sucesso com o tratamento. O medicamento, para funcionar, precisa de uma resposta do próprio organismo, da sua cooperação, de seu esforço. Um tratamento completo na hepatite C depende dos medicamentos, da aderência, da atividade física e do planejamento alimentar.
Vejamos porque o paciente antes de iniciar o tratamento deve estar ciente da sua doença, as consequências se tratar ou não tratar, o tratamento indicado e, o que pode acontecer. A seguir uma lista dos fatores que influenciam a decisão de tratar e da maioria das interrupções durante o tratamento. Coloquei ao lado de cada fator a minha interpretação entre parêntesis, negativa ou positiva.
- Possíveis problemas de saúde se não tratar a hepatite C (fator estimulante ao conhecer a progressão natural do dano hepático).
- Eficácia esperada do tratamento (fator estimulante se a possibilidade de cura for superior aos 70%).
- Temor de sofrer efeitos colaterais durante o tratamento (fator negativo se o paciente está com medo de sofrer os efeitos colaterais).
- Temor de sofrer depressão durante o tratamento (fator negativo se o paciente é depressivo).
- Temor de perder o trabalho se sofrer fadiga durante o tratamento (um fator que deve ser discutido abertamente com a família e seu chefe no trabalho).
- Tratamento de longa duração (fator negativo).
- Temor de medicamentos injetáveis (fator negativo, mas em curto prazo chegarão os medicamentos para tratamento oral).
- Incomodo de ter que se lembrar de tomar vários medicamentos durante o tratamento (fator negativo).
- O médico não apresenta nem discute possíveis alternativas de tratamento (fator negativo).
- Temor da biópsia de fígado (fator negativo, mas hoje já existem métodos não invasivos para avaliar o grau de fibrose ou cirrose).
- Depoimentos e relatos de pessoas com hepatite C e seu impacto na qualidade de vida (fator negativo, principalmente aqueles que encontram relatos negativos em listas de discussão na internet).
- Depoimentos de como a qualidade de vida foi afetada durante o tratamento da hepatite C (fator negativo, principalmente aqueles que encontram relatos negativos em listas de discussão na internet).
- Grau de fibrose mínimo ou moderado (fator positivo que indica que pode aguardar novos medicamentos, mas também um fator negativo já que poderá agravar o grau de fibrose).
- Fígado já com cirrose (fator positivo. Em geral incentiva o paciente a tentar o tratamento com responsabilidade)
- Possibilidade de vir a apresentar sintomas da hepatite C (fator positivo. Conhecer a progressão e consequências incentiva o tratamento).
- Mulheres pretendendo engravidar (fator negativo. A mulher não pode engravidar caso ela ou o parceiro esteja realizando o tratamento, devendo aguardar seis meses após o final do tratamento para tentar a gravidez).
- Uso de drogas (fator negativo, pois aumenta a possibilidade de interrupção do tratamento).
- Falta de maiores informações sobre os tratamentos de hepatite C (fator negativo).
- Força de vontade positiva demonstrada durante a vida (fator altamente positivo).
- Falta de força de vontade em alcançar seus objetivos pessoais (fator altamente negativo).
- Quais objetivos de vida podem ser prejudicados pela hepatite C (avaliar os planos futuros de vida que não poderiam ser atingidos caso não realize o tratamento pode ser um fator positivo).
- Como a hepatite C pode prejudicar a família (avaliar o prejuízo familiar caso não realize o tratamento pode ser um fator positivo).
- O tratamento pode prejudicar a família (fator que deve ser discutido amplamente com a família. A família é fundamental para ter o apoio necessário durante todo o tratamento).
- Capacidade de pagar o tratamento (fator negativo devido ao alto custo se não estiver disponível tratamento gratuito).
- Apoio emocional de amigos, familiares, grupos de apoio e religião (fator fundamental para evitar a depressão).
- Empatia com o médico (fator fundamental. O médico deve ser considerado um amigo e não um profissional distante)
- Conselhos do médico (é fundamental seguir a risca os conselhos do médico para ser um fator positivo).
- Dialogo com o médico, enfermeiros e equipe profissional do hospital (fundamental para ser um fator positivo).
- Encaminhamento correto da equipe medica para conseguir exames, consultas e medicamentos (fator fundamental. O tratamento não pode ter interrupções).
- Distancia muito grande da residência ao local de tratamento (fator negativo em países como Brasil onde em alguns estados as distancias são grandes).
- Informações e explicações sobre o andamento do tratamento, explicando cada resultado de exames (fator positivo para encorajar o paciente a não desistir do tratamento e manter a aderência).
Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Assessment of motivating factors associated with the initiation and completion of treatment for chronic hepatitis C virus (HCV) infection - Fusfeld L, Aggarwal J, Dougher C, Vera-Llonch M, Bubb S, Donepudi M, Goss TF. - BMC Infect Dis. 2013 May 23;13(1):234.
e-mail: hepato@hepato.com - e-mail opcional: grupootimismo@gmail.com
www.hepato.com
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